Depois de quase dois anos de espera, chegou a hora de tirar o velho vestido ou a camisa quadriculada do armário. Ou, se preferir, ir até a Saara, no Centro do Rio, Madureira, na Zona Norte, ou qualquer outro comércio local comprar um novo look para as festas juninas. Além das vestimentas, os adereços e os acessórios de São João também estão voltando com tudo. É hora de pular a fogueira e beber um quentão!
De acordo com a pesquisa do Clube dos Diretores Lojistas do Rio Janeiro – CDLRio, e do Sindicato dos Lojistas do Município do Rio de Janeiro – Sindilojas Rio, a saudade de ir às festas do “santo casamenteiro”, tem levado muita gente às compras. O que já movimentou cerca de 40% do comércio na Zona Norte, 30% no Centro, 20% na Zona Oeste e 10% na Zona Sul. Cenário bastante promissor aos olhos dos comerciantes e, também, dos brasileiros que não viam a hora de voltar a se aglomerar com os amigos e familiares.
Como é o caso da aposentada Sandra Andrade, que fez 60 anos no dia primeiro de junho. Para celebrar a data em grande estilo ela resolveu unir duas paixões: o aniversário e a festa junina. Com os preparativos da festa a todo vapor, a decoração do evento não poderia ser diferente: um arraial. E para ficar de um jeito para parente nenhum botar defeito, a carioca foi às compras. Com a listinha na mão e a cesta lotada de acessórios juninos, o valor a ser gasto, segundo ela, já estava na ponta da caneta.
— Eu vou comprar cerca de R$300 em acessórios e enfeites. Já na festa, com todo mundo ajudando, a gente deve gastar em média uns R $700. Eu saí de casa pesquisando preço. Por isso, resolvi comprar a varejo por ser mais em conta. Já comprei o biscuit decorado para pôr no topo do bolo, as bandeirinhas, os descartáveis e também os chapéus — afirmou Sandra que já preparou a roupa para o dia do evento. Ela encontrou a camisa quadriculada para se vestir a caráter por R $39,90 na promoção. Com o sorriso pintado, típico da época, e o chapéu de palha na cabeça, ela espera receber cerca de 40 convidados, todos a caráter — Eu estou muito animada e sou só alegria. Vou comemorar meu aniversário pela primeira vez depois de dois anos. Não vejo a hora de me divertir.
Com a inflação em alta, muitas pessoas estão optando pela compra de produtos no atacado. É que no varejo o preço dos adereços e acessórios estão pesando mais no bolso. Vantagem percebida pelo empresário, José João Richa, de 59 anos, desde 1994, há 24 anos, ele administra a loja de atacado Multifestas, no Saara. Para Richa, a retomada do comércio este ano vai ser tão forte que deve faltar mercadoria para repor os estoques. Ele afirma que desde 20 de maio a procura por produtos juninos aumentou 30% em comparação ao mesmo período de 2019.
— Eu vendo para CNPJ, ou seja, pequenos comerciantes e também para pessoas físicas. Vamos ter uma demanda muito maior este ano. Até porque todo mundo está necessitado, carente de festas. O que é muito bom porque isso aquece a economia. Eu comprei mercadoria acreditando vender com aumento de 30% a 40%. Mas, na verdade, esse aumento deve ser de 60% a 70%. As pessoas estão comprando mais. Porém os fabricantes não estão atendendo as demandas do mercado por falta de matéria prima.
Mas essa insegurança de mercado, pela falta de matéria prima, é percebida pelos fabricantes. Fernando Carvalho, é dono da fabricante Usina de Arte que confecciona cinturões, balões, chapéu de cangaceiro e balões de fita. Há 30 anos, ele produz e revende produtos para o mercado varejista. Na percepção dele, a China, que é um dos maiores fornecedores de mercadorias e matéria prima, está com o frete de importação dos produtos de matéria prima muito caro. O que dificulta a produção dos fabricantes.
— Todo mundo ficou numa expectativa de que o mercado vai melhorar, mas depois vem a notícia de que não melhora. Criou-se no mercado uma insegurança muito grande. Ficou caro comprar da China. Eu acho que as pessoas estão loucas para fazer festa. Tem muita demanda, muita oferta, mas está faltando segurança na economia. A produção é sempre feita por encomenda que é melhor do que uma produção antecipada. É aquele ditado “eu compro, mas se não estão procurando, eu não compro”. Acabou essa coisa do estoque. A China botou os valores da mercadoria a preço muito baixo e agora o mercado pede essa referência de valor baixo. Muitos comerciantes estão acostumados a comprar com o preço da China, mas se o valor do investimento não está valendo a pena, fica difícil fechar negócio. O que impacto no consumidor final que não encontra o produto — completou Fernando.
Camila Nascimento, de 30 anos, é vendedora da loja Doçura Carioca, no centro, há 5 meses. Recém contratada, ela já chegou no trabalho sendo orientada sobre os preparativos para junho e junho. Com orçamento regrado ela foi às compras pesquisar preço e se deparou com uma chuva de ofertas, resultado animador já que era dia de enfeitar a sacada da loja e organizar os preparativos para as festas.
— Eu pretendo nessa compra de agora no máximo R $100 em produtos. Mas eu devo voltar para comprar mais. A gente abastece a loja toda semana, sempre comprando acima de mil reais. Além de doces típicos e doces de potes, a gente vende bandeirinhas e acessórios. A expectativa da loja é mais que dobrar o faturamento de 2019 — completou a vendedora com o cesto cheio de balõezinhos e mini chapéus de palha.
O comerciante Alberto Richa, de 61 anos, tem uma pequena loja de brinquedos e artigos de festas na Saens Pena, na Tijuca. Na expectativa de superar as vendas do ano passado – que foi tímida por conta das restrições – e dobrar os números de 2019, ele foi até o Saara abastecer o estoque.
— Estamos muito animados com essa retomada. Eu acho que o país está num bom momento. Eu tenho comprado bastante para poder revender. Eu orcei gastar de 10 a 15 mil reais para terminar de compor meu estoque. Dentro dos produtos que vou levar, não pode faltar bandeirinha, mas, acredito que todo produto junino é prioridade. O cliente de varejo é infinito. Qualquer produto de festa junina vende. E vende bem — pontuou.
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